segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sitio Arqueológico de Calçoene, o Stonehenge do Amapá

Olímpio Guarany

Situada a 130 quilômetros a oeste de Londres está a enigmática Stonehenge. Considerada como um dos mais belos monumentos megalíticos existentes é composta por um complexo de enormes pedras fincadas em círculos. Pelas marcas existentes no chão, calcula-se que metade das pedras foi retirada posteriormente a sua criação. Ao seu redor, existem vários blocos isolados que receberam os nomes de “Pedra do Sacrifício”, ”Pedra do Altar” e “Pedra do Calcanhar”. Em sua forma primitiva, o círculo possuía 30 blocos verticais, sobre os quais havia 30 blocos horizontais, formando um círculo de 30 metros de diâmetro e 5 metros de altura. 

Stonehenge na Inglaterra, próximo à Londres
Aí você pode perguntar: O que a Stonehenge da Inglaterra tem a ver com o Amapá? 
Provavelmente nada ou alguma coisa, mas o certo é que pesquisadores do IEPA – Instituto de Pesquisas do Amapá -  comprovaram que na região de Calçoene existem vários sítios de pedras megalíticas, tais como na Inglaterra. A disposição dos blocos chamou tanta atenção que chegaram a comparar com o sitio inglês, daí passaram a apelida-los de “Stonehenge do Amapá”.
As primeiras informações me despertou a curiosidade e logo procurei a Mariana Cabral e o João Santana, casal de pesquisadores gaúchos que servem no IEPA. Foram eles que aprofundaram as pesquisas sobre o sitio arqueológico de Calçoene.
Depois de alguns dias em Amapá, produzindo material para o programa de TV “O Repórter da Amazônia”, organizei uma expedição para conhecer o sítio de pedras megalíticas descobertos recente, onde teria existido uma civilização complexa com largo conhecimento, inclusive de astronomia.



Era madrugada quando chegamos a Calçoene. A cidade está situada às margens do rio que lhe deu o nome, distante cerca de 370 km de Macapá. Ao passar pela orla nos deparamos com barcos pesqueiros coloridos ancorados no rio Calçoene, é o cartão de visita da cidade cuja a vocação econômica é a pesca e o extrativismo.

Ao amanhecer a equipe não continha a ansiedade para chegar ao sítio arqueológico. São 18km da cidade até lá. Seguimos por uma estrada vicinal, de chão batido, e emoldurada pela floresta densa. 
Antes dos achados, no local funcionava uma fazenda. Ao fundo a sede, que hoje abriga o escritório base do IEPA. Nosso guia é o próprio vigia, “seu” Raimundo. Caminhamos um pouco pelo campo por entre capim e mata rasteira e logo nos deparamos com os blocos fincados na parte mais alta do terreno.
O círculo de pedras descoberto em Calçoene, no Amapá, marca uma parte da história e atiça o interesse da arqueologia brasileira e internacional. Mas, por que os construtores escolheram a parte mais alta do terreno, numa colina?
A pesquisadora Mariana Cabral explica: “aquela é uma região de contato de floresta com a área mais baixa, área de litoral e são áreas que no período das chuvas ficam alagadas, todavia, a área onde estão as pedras, a água não chega e nas enchentes aquilo vira uma ilha, portanto a escolha do local tem a ver com o conhecimento daquele ambiente”.
Um outro detalhe é que o sítio fica próximo a margem do Igarapé Grande, e isso tem chamado a atenção dos pesquisadores que já haviam identificado outros sítios nas mesmas condições.

 O pesquisador João Saldanha diz que outros sítios descobertos na região situam-se, no máximo, a 100 metros dos Igarapés. Isso nos leva a crer que os rios e Igarapés eram usados como estradas naturais que agregavam grupos humanos em determinados lugares para construir os megalitos e depois fazer as cerimônias nesses sítios.

Andando pelo sitio, tocando nas peças, dá para perceber que são bastante pesadas e foram feitas de um material extremamente resistente, cuja maioria dos blocos se mantém inteira até hoje. Que material foi utilizado e como chegaram aquele formato?

“Provavelmente usavam madeiras duras. Como eles conheciam os tipos de rochas- esses povos eram, digamos “geólogos”  e sabiam como se quebravam naturalmente e fazem uso desse conhecimento para retirar os blocos com mais facilidade”, diz a pesquisadora Mariana Cabral. 
 
Pesquisador João Saldanha
“Eles aproveitavam a geologia da região que era basicamente granito que acaba escamando por conta do calor de dia e do frio à noite. Isso facilitava o trabalho. Eles levavam os blocos para algum lugar e lá eles formatavam as peças, faziam as pontas, os buracos em forma de círculos...” arremata João Saldanha.

Os blocos de pedra do círculo megalítico estão posicionados de maneira que o Sol, durante o solstício de inverno do hemisfério Norte que ocorre em 21 de dezembro, incida sobre o bloco, eliminando a sombra. Isso poderia ser um observatório? Esses povos teriam algum conhecimento de astronomia?
A pesquisadora Maraina Cabral afirma: “Esses povos indígenas tinham conhecimento astronômico bastante refinado. A forma como eles colocaram os blocos no solo é para marcar esse momento do solstício. Aliás isso foi o que nós conseguimos perceber, pois aquela estrutura de Calçoene tem mais de 100 blocos e a gente imagina que muito mais conhecimento que está inscrito ali e que ainda não conseguimos decifrar. Talvez relacionado a outras variantes, que tenha a ver com a lua, com as estrelas com outros movimentos...
Maria Cabral diz que aqueles povos tinham conhecimento refinado do seu entorno, daquilo que acontecia ao seu redor, além dos movimentos do sol e talvez de outros astros



O círculo de Calçoene foi apelidado de Stonehenge do Amapá em referência ao famoso sítio arqueológico na Inglaterra.
Durante as escavações os pesquisadores encontraram lápides em poços funerários tampados com pedra plana muito bem posicionada. Essa estrutura física que parece incorporar esses conhecimentos, sugere que esses índios pré-colombianos seriam bem mais sofisticados do que se suspeitava.
“Eles mesclavam conhecimento de arquitetura e de geologia. Por exemplo aquela montanha de pedras se transforma em rocha dura, mas eles tinham conhecimento, abriam a rocha e firmavam os megalitos naquelas posições especificas”,  conclui o pesquisa João Saldanha. 

Nas escavações feitas pelos arqueólogos foram encontrados enterrados vários objetivos de cerâmica revelando o domínio sobre as artes. São potes, vasos, peças em diversos formatos e urnas funerárias.
Andando pelo sitio me aproximei de um bloco na vertical o que me deu a impressão de ser o ponteiro de um relógio do sol. Andei um pouco mais e me deparei com uma lápide. A minha curiosidade foi além da imaginação daí eu fui ouvir o pesquisador João Saldanha: “Aquele monumento megalítico de Calçoene tem 30 metros de diamentro, foi utilizado por cerca de 500 anos e só tem 11 tumbas, ao menos as que foram mapeadas, o que nos leva a crer que eram pessoas muito importantes para aquela sociedade”, disse.



O sitio arqueológico de Calçoene, no Amapá, ainda vai precisar de muito estudo para responder a perguntas que podem revelar se ali existiu uma organização social mais complexa, por exemplo. A ocorrência de Calçoene  tem um significado ainda misterioso, mas  abre uma fresta para o elevado grau de desenvolvimento cultural da civilização pré-colombiana que existiu naquela parte do Amapá.

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